Em “O Problema dos 3 corpos”, vemos os habitantes de um mundo fictício sendo levados em direção ao espaço após a ocorrência da Sizígia. Mas, a pergunta que fica é: existe uma base científica para essa cena?
Pra quem ainda não ouviu nada a respeito da série, um breve resumo: Um consórcio formado por astrofísicos, militares e engenheiros se reúne para iniciar um projeto ambicioso de comunicação com formas de vida extraterrestres. No entanto, as consequências dessa decisão começam a se desdobrar ao longo de cinquenta anos, trazendo ameaças à humanidade por meio de forças desconhecidas.
Agora sim!
Antes de tudo, um AVISO: se você ainda não assistiu ao terceiro episódio da série e não quer ter SPOILERS, pare por aqui e depois cê volta.
ALERTA DE SPOILER
No terceiro episódio, Jin Cheng, uma física brilhante de Oxford, e seu amigo Jack Rooney, um físico despreocupado — que abandonou a faculdade para empreender no ramo de alimentos industrializados — estão imersos em um jogo de realidade virtual, muito fod4, enviado por extraterrestres de uma civilização conhecida como San-Ti (do chinês, “Três sóis).
Os San-Ti têm uma história que transcende a existência humana, ou seja, uma civilização muito antiga, o que lhes concedeu uma vantagem tecnológica, obviamente, significativa.
Entretanto, o progresso de sua tecnologia é bem lento já que seu planeta natal orbita um sistema estelar composto por três estrelas, em vez de uma única.
Agora você pode estar se perguntando: “E o que tem a ver o cool com a calça?” Então, tem tudo a ver.
A complicação de um sistema estelar como esse reside no fato de que as órbitas das estrelas se tornam totalmente caóticas e imprevisíveis.
E justamente por isso, os San-Ti não usufruem de conceitos como anos, meses ou dias.
Já que, todas essas divisões temporais dependem da previsibilidade dos movimentos do Planeta, do Sol e da Lua.
No mundo dos San-Ti, o clima é marcado por períodos de estabilidade — denominado Eras estáveis —quando o planeta orbita apenas uma estrela e a tranquilidade prevalece. E, períodos caóticos, nos quais as três estrelas “disputam” o planeta, resultando em uma série de desastres naturais devido à intensa batalha gravitacional.
E, é por isso que o povo San-Ti, mesmo sendo uma sociedade muito mais antiga que a nossa, possuem uma tecnologia que, apesar de ser extremamente superior, avança a passos lentos. Afinal, de tempos em tempos — ou eras e eras — um desastre natural acabava matando os grandes cientistas San-Ti.
Na realidade, o jogo alienígena, serve como uma estratégia de “relações públicas” para despertar a empatia dos humanos e persuadi-los a colaborar com os San-Ti.
Devido ao clima instável de seu planeta, esses alienígenas não conseguem mais suportar as condições ocasionadas pelo problema dos 3 corpos e planejam colonizar a Terra em busca de uma vida mais estável. No entanto, a jornada da frota está estimada em 400 anos até chegar ao destino.
Inicialmente, os jogadores são levados a acreditar que devem resolver o enigma dos 3 corpos. Entretanto, logo percebem que não existe uma solução precisa para o impasse.
Apesar de os nossos físicos conseguirem usar um método chamado integração numérica para prever o movimento do sistema triplo conforme as leis da mecânica clássica, a única maneira de completar o jogo é demonstrando compaixão pela raça extraterrestre, os San-Ti.
A questão é que, nesse terceiro episódio, Jin e Jack presenciam um big desastre natural ocasionado pela Sizígia.
Sizígia = três ou mais astros alinhados, tipo o que ocorre em um eclipse solar ou lunar — Terra, Sol e Lua, alinhados.
Para os San-Ti, ocorre um alinhamento dos três sóis (a sizígia de chernobyl). Nesse momento, a força gravitacional do sistema se torna tão poderosa que indivíduos e objetos na superfície do planeta San-Ti começam a flutuar em direção ao espaço.
Mas, a questão é se existe ou não respaldo científico para esse povo sendo arrebatado aí.
Primeiro que a série não deixa claro pra onde é que esse pessoal tá subindo. Em direção a um dos sóis? Queimariam. Ou, simplesmente em direção ao espaço aberto?
Bom, de acordo com a física, a segunda opção é a que mais se aproxima da realidade.
Cada objeto possui um limite de Roche, que representa a distância máxima que um objeto, como um planeta, pode se aproximar de um objeto maior, como uma estrela, antes de se desintegrar.
Um exemplo disso são os anéis de Saturno, que estão dentro do limite de Roche, impedindo que se unam para formar uma lua. Por outro lado, as luas de Saturno estão fora deste limite, o que permite sua existência sem interferências.
Se o planeta dos San-Ti ultrapassar significativamente o limite de Roche do sistema solar triplo, já era. O provável é que ocorresse uma desintegração do próprio planeta. Portanto, sim, a cena é plausível do ponto de vista gravitacional.
No entanto, há um aspecto importante que não é considerado: o calor.
Se um modesto planeta rochoso se aproximasse além do limite de Roche de sua estrela, seus habitantes seriam submetidos a um calor intenso e seriam incinerados quase instantaneamente, muito antes de serem afetados pela gravidade.
Portanto, Nando Reis estava errado. Se um segundo sol chega, meu amigo… não vai alinha fucking órbita dos planetas coisa nenhuma.